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Roberto Lopes e Franco: encontro informal (esq.) e pódio em Winnipeg em 1999 (Foto: Editoria de Arte) |
Matéria publicado por: Vôlei Net
O glamour dos pódios ficou na memória, e a evolução de um canteiro de obras se tornou o novo troféu na vida de Roberto Lopes. Bicampeão do Circuito Mundial de vôlei de praia com Franco, ao lado de quem atuou por 15 anos, o ex-jogador aprendeu as funções de um burocrata e se aproximou do futebol nos quatro anos que se passaram desde sua aposentadoria. Agora manager da Fifa em Fortaleza, o educador físico é peça-chave em todo o processo de reforma e reinauguração do Castelão. Assim como na época em que reinava nas areias, o maranhense vive com a adrenalina alta, desta vez pelo desafio de coordenar o primeiro grande teste de um dos estádios que sediará tanto jogos da Copa das Confederações quanto da Copa do Mundo de 2014.
Neste domingo, em rodada dupla da Copa do Nordeste, o Fortaleza encara o Sport, enquanto o Ceará recebe o Bahia na sequência. GLOBOESPORTE.COM acompanha todos os lances das partidas a partir das 17h (horário de brasília)
Roberto concluiu a faculdade de Educação Física, iniciada ainda na ativa, três anos depois de sua aposentadoria das areias, em 2008. O período de dedicação exclusiva aos estudos, no entanto, foi bastante breve. Convidado para trabalhar na Secretaria de Esportes do Estado do Ceará, em escritório no próprio Castelão, ele iniciou sua vida nos bastidores da política esportiva.
O desempenho no novo cargo e o contato diário com as obras de reforma do estádio fizeram com que o ex-atleta recebesse um desafio ainda maior em setembro do ano passado. Secretário Especial da Copa em Fortaleza, Ferruccio Feitosa indicou Roberto para ser manager da Fifa no estado, uma espécie de gerente geral que facilita as relações entre a entidade máxima do futebol mundial e o governo local. Por enquanto apenas as seis sedes da Copa das Confederações possuem o cargo, que depois será criado também nas demais cidades que receberão jogos do Mundial de 2014.
- O atleta em geral deixa o esporte muito defasado em relação ao mercado profissional, e sempre me preocupei em não deixar que acontecesse isso comigo. Quando você se ocupa rapidamente com outras coisas, dá uma desviada no foco, isso supre um pouco a ausência do glamour das vitórias, do assédio da torcida, da adrenalina do desafio. Estou em uma nova fase, mas também supero desafios e batalhas diárias. Lido com muitas questões administrativas, políticas e de marketing, de todas as áreas. Quero adquirir o máximo de conhecimento para levar isso a outros eventos, não só com o futebol. Seria uma honra voltar às Olimpíadas com outra função, por exemplo – disse, recordando sua participação ao lado de Franco nos Jogos de Atlanta, em 1996, quando se despediram na nona colocação.
Nos próximos dois anos, porém, o ex-atleta estará totalmente voltado para o futebol. O pioneirismo do Ceará nos processos de licitação e a conclusão das obras do Castelão em dezembro de 2012 deixaram o estado em evidência, que se tornará ainda maior neste domingo, dia 27 de janeiro. O primeiro teste do local como Arena Multiuso será feito em evento que envolve uma logística complexa: rodada dupla da Copa do Nordeste com confrontos entre Fortaleza e Sport e, posteriormente, Ceará e Bahia.
Apesar da preocupação com a segurança do local, já que haverá encontro de torcidas com grande rivalidade regional, Roberto confia no sucesso do evento. Ciente da importância de que tudo saia bem, o gestor acredita que o estado será motivo de orgulho para o Brasil diante da imprensa mundial.
- Estamos muito felizes e cientes de que temos uma responsabilidade muito grande. Não vão ser apenas jogos, mas eventos com um glamour diferente. O mundo todo vai estar de olho e vai noticiar. Queremos nos mostrar à altura desta responsabilidade, mostrar ao mundo que o Brasil está pronto e preparado nos quesitos segurança, transporte, organização. Temos uma nova arena, com padrões internacionais e torcedores no nível do campo. Teremos todo o cuidado para cumprir todas as exigências da Fifa e para que tudo ocorra da melhor forma possível.
15 anos de Franco e Roberto Lopes
Roberto Lopes nasceu em Bacabal, no interior do Maranhão, e se mudou para Fortaleza com a família aos 12 anos de idade. Fã de futsal, o menino trocou o salão pelas quadras de vôlei a convite do irmão e passou a jogar no time infanto-juvenil (15 a 17 anos) da AABB. Passou por cinco clubes, incluindo o Náutico, até trocar o indoor pelas areias. A ascensão na praia foi rápida e, em 1990, o maranhense já disputava o Circuito Mundial.
Em 1993, Roberto e Franco entraram para a história da competição ao quebrar a hegemonia dos americanos Sinjin Smith e Randy Stoklos, vencedores das quatro edições anteriores. Os dois ganhariam mais um título de temporada dois anos depois, ficando perto de assegurar uma vaga para estreia do vôlei de praia em Olimpíadas, em 1996 (relembre no vídeo abaixo). Em Atlanta, no entanto, os dois se despediram na nona colocação. Ao todo, os amigos disputaram 106 torneios internacionais em 15 anos juntos, conquistando ainda o bronze do Pan de Winnipeg, em 1999.
Apesar da distância (Franco mora no Rio de Janeiro) e das agendas atribuladas de ambos, os dois ainda mantêm contato com frequência, acompanham atentamente os passos um do outro e, sempre que possível, se reencontram para relembrar momentos marcantes da carreira em conjunto. Período do qual Franco sente saudades.
- Era uma época mais romântica, em que as parcerias tinham uma longevidade maior, talvez até pelo fato de sermos da mesma cidade. Éramos amigos da escola, viramos amigos do esporte e jogamos por 15 anos. Quebramos a hegemonia americana e conquistamos muita coisa. As lembranças são muito fortes.
Até hoje recordamos esses momentos gloriosos, que se perpetuaram mesmo depois de ele parar de jogar. E o carinho pelo outro continua da mesma forma – disse o cearense que, coincidentemente, almoçava com Roberto nesta quarta quando atendeu ao telefonema do GLOBOESPORTE.COM.
Desde que se aposentou das quadras, Roberto manteve contato com o vôlei de forma bem próxima. Além de bater bola eventualmente com os filhos gêmeos Ricardo e Roberto Filho, o ex-atleta também trabalhou como auxiliar técnico da seleção brasileira sub-19 e sub-21 em 2010 e, em Fortaleza, montou um centro de treinamento em parceria com uma instituição de ensino e a Federação Cearense de vôlei.
No último ano, porém, afastou-se devido ao trabalho junto à Fifa. Para manter a boa forma, pratica musculação diariamente antes de cumprir os compromissos profissionais.
Aos jovens atletas, Roberto espera deixar um exemplo positivo não apenas pelo que fez em quadra mas, principalmente, pela esforço para conciliar a rotina de competições com a preparação para a vida pós-aposentadoria do esporte.
- O mais difícil para o atleta é o fim, é aceitar que ele tem que parar de fazer o que mais ama. Por isso é preciso se preparar bem antes do momento em que o corpo não vai mais aguentar. Eu parti para isso muito cedo, e quatro anos antes de parar comecei a me preparar, tanto psicologicamente quanto academicamente. Falo para todos os jogadores com que tenho contato para entrarem para a faculdade, para investirem em uma transição menos dolorosa e que renda frutos. É difícil para todos, mas vejo hoje como valeu todo o esforço que eu fiz.