Diário de Bordo: Depoimento da cearense Paulla Pinheiro, jogadora da equipe americana Trinity Valley Community



                                                 
Ela tem 22 anos, é cearense e tem um futuro promissor. O Vôlei Nordeste conversou com Paulla, jogadora da equipe universitária americana Trinity Valley Community College que ajudou em 2012 a também equipe universitária Unifor (CE) a conquistar a fase regional da Liga Nacional, principal competição para as equipes nordestinas.
A atleta, que já conquistou pela  seleção cearense os Jogos da Juventude Norte-Nordeste, um Campeonato Brasileiro Juvenil e um Vice no Campeonato Brasileiro Infanto,  contou como foi o convite para jogar no exterior, seus objetivos, diferenças culturais, e os desafios de uma brasileira na adaptação com um novo estilo de jogo e treinamento.
Confira o depoimento 
Início
Comecei a jogar de brincadeira com os meus primos na casa dos meus avós, onde nos reuníamos  pra passar as ferias. Tinha 11 anos quando me apaixonei por vôlei. Depois dessas ferias, comecei a fazer escolinha no colégio e logo cheguei ao meu primeiro e único clube, O BNB Clube de Fortaleza, com 12 para 13 anos, e fiquei até meus 17, com os professores Gurgel e Adriano. Depois disso me mudei, fui jogar na  UNIFOR, na época ainda sob o comando dos professores Carlão e Ralciney, e fiquei por lá até me mudar para  os Estados Unidos.
Já  tive a chance de representar a Seleção Cearense em campeonatos nacionais e regionais, onde conquistamos alguns títulos importantes, como Jogos da Juventude Norte-Nordeste, um Campeonato Brasileiro Juvenil e um Vice no Campeonato Brasileiro Infanto. Também fui eleita a melhor atleta do estado em quase todas as categorias dos Campeonatos Cearense aos quais participei. Agora jogo na primeira divisão da liga NJCAA, nos Estados Unidos, pelo Trinity Valley Community College, o TVCC, com as Lady Cardinals. Meu time é um projeto bem novo, que  tem 2 anos de existência, mas que vem com tudo pro ano que vem, pra conseguir uma vaga no torneio nacional. Eu era a única estrangeira na última temporada, agora que nos temos mais duas chegando, uma brasileira e outra francesa, estou bem animada pra este ano.
 
Como foi o convite para jogar fora?
Amigos e contatos. A gente sempre ouve histórias de gente que já foi embora, e eu já meio frustrada com o futuro aqui no Brasil (principalmente pra uma baixinha como eu), uma simples pergunta de uma das minhas colegas de time já me fez pensar longe; "você teria interesse em jogar nos EUA?". Eu disse, "Na hora!". Depois disso passei por um processo de preparação psicologia e da minha família. Muita gente não acreditava que era possível, mas eu nunca pensei que não fosse dar certo. Meche aqui, meche ali, acabei conhecendo uma empresa que trabalha exatamente com atletas que desejam jogar fora, a XSPORTS Brasil. Rapidamente encontrei um College que me deu a oportunidade de ir, com bolsa de estudos completa. Sou muito feliz com esse time, mesmo tendo recebido outras propostas depois.

Aprendizado
Muitos, todos os possíveis. Morar em outro país,  pode ser assustador no começo: aprender outra língua, outra cultura, acostumar com saudade, mudar hábitos, faculdade, e estudos, vôlei  - tudo ao mesmo tempo. Não e fácil, mas acho que fui  bem! É preciso ter a mente muito aberta pras situações que aparecem, porque fazer comparações é inevitável. Mas tenho aprendido muito sobre gratidão, sobre amizades, sobre amor ao próximo, sobre pessoas, além da língua, e as coisas da faculdade, é um amadurecimento em todos os sentidos.

Idioma
O inglês, pra qualquer pessoa neste mundo, já não é mais uma língua totalmente estranha, mas também não é  de repente que você aprende e sai falando. Da mesma forma que cada pessoa aprende diferente, cada pessoa tem o seu próprio tempo. Eu nunca tinha feito nenhum curso antes, meu inglês era básico, que qualquer pessoa tem por senso comum ou que aprende no colégio. Mas pro voleibol, nunca me atrapalhou o fato de não saber inglês. Ficava observando tudo, prestando atenção. No final do dia sempre tinha aquela dor da cabeça básica, muita informação. No entanto, depois de um tempo você começa a esquecer dicionário (porque já não depende tanto dele), deixa de ouvir umas palavras e passa a ouvir outras, começa a entender a gramática e deixa de traduzir coisas do português, chega nos lugares sabendo o que vai fazer e o que pedir e começa a ter uma vida "normal". Depois de cerca de 5 meses eu já me sentia bem confortável. Foi quando eu percebi que já poderia colocar no meu currículo, "domínio do inglês", ou "fluência", ou sei lá, o termo que eles usam.

Pontos positivos e negativos
   
É difícil ficar longe da família, dos amigos, da rotina que já estava estabelecida antes. Você também perde um pouco de privacidade, pelo fato de morar com as meninas do time. Não dá pra fazer sempre o que se quer fazer. Também fazemos testes surpresa de drogas e álcool, então nada de beber! Ate mesmo sair para festas pode não ser uma boa escolha, dependendo da época. E a comida americana também pode ser um ponto negativo para algumas pessoas, mas pra mim só foi difícil ate eu me adaptar. Tenho uma tendência
 (fortíssima) a ser magra, então não senti grandes diferenças em relação ao peso. Mas a comida brasileira é, com certeza, muito mais saudável, embora não tenha a praticidade da comida americana. Todo o resto são coisas positivas. Acho que "aprender" seria a palavra central, porque tudo e, na verdade, um grande aprendizado. E quando você põe tudo isso na balança, vale muito a pena.
  
                                       
Família
Graças a Deus e a tecnologia, nunca ficávamos  muito tempo sem noticias. Durante as primeiras semanas, usava o computador da minha treinadora, e ficava em contato com quase todo mundo via Skype, Facebook e também por telefone. Às vezes, a gente até brincava que era mais conectada enquanto estava morando lá nos EUA, do que no Brasil.
Mas o conceito de Mãe muda. Família ganha um novo significado e no fim das contas, eles são mesmo o bem mais precioso no mundo. E tanto a família muda pra você, como você muda para a família. Até a minha avó, Dona Branca, que mora no interior passou a usar Facebook pra poder ter notícias minhas e de outros parentes também. Foi uma graça.  Lá nos EUA também "encontrei" outra família, melhor dizendo, mais duas, ou três. Tenho 3 "mães", uma delas, também brasileira, que foram pessoas fundamentais pra mim.

Diferenças do Brasil
As diferenças no mundo do vôlei, vão desde as regras, o estilo de jogo e treinamento até a produção e apresentação do jogo em si. Os americanos são muito mais práticos em relação a qualquer esporte, porque lidam sempre com a estatística. Outros aspectos também são importantes, mas a estatística esta sempre presente, mesmo nos treinamentos. Não interessa como você faz, contando que faça pontos. A questão tática também é  bem enfatizada nos treinos. Mas acredito que a grande diferença se deve as regras, que são diferentes.
Por exemplo, nos EUA o numero de substituições é  ilimitado, isso faz com que as jogadoras sejam bem especificas na suas posições. No meu time nos jogamos sempre com três atacantes na rede. É bom, porque gera uma rotatividade legal, e dá mais oportunidades para o grupo, embora, gere boas ponteiras que não sabem passar, por exemplo.

Futuro
 
Em relação ao vôlei,  estou bem animada para o ano que vem. Vamos ter mais duas estrangeiras, Nem preciso dizer que minha treinadora adora gente de fora! Ela já jogou com brasileiras antes, e entende bem a importância de ter estrangeiras no time. Pra mim é maravilhoso ter alguém que compartilha das mesmas sensações, porque as vezes é inevitável se sentir um peixe fora d'água, apesar de eu já se sentir em casa de algum modo. Em relação à faculdade, penso sim em me formar, depois transferir pra uma universidade e conseguir meu bacharelado em Biologia. Tenho algumas universidades em mente, mas nada definitivo ainda. Depois disso, ainda não sei exatamente por que caminho seguir, muita coisa por acontecer ate lá.
 




4 comentários:

  1. Nós Cearenses, ficamos orgulhosos do Sucesso desta atleta. São pessoas assim que o nosso Brasil precisa. Enfrentando desafios, sem medo da distancia, e amenizando e aceitando a Saudade da Familia e dos Amigos.
    Parabéns a Paulla Pinheiro e toda sua Familia.
    Nosso Ceará está bem representado e de Parabéns.
    Almir e Familia.

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  3. Parabéns Paulla!
    Tenho certeza que você vai longe.. estamos na torcida!
    beijos, Katiuska :)

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  4. Parabens Paulla!!! Voce e um EXEMPLO..! Me deu ate um estimulo a mais agora..Obrigada. ;) Boa sorte!

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