Uma reflexão sobre a seleção brasileiro de voleibol nas Olímpiadas

 Por: Camille Carrilho 



       Orgulho, raça e determinação: são essas três palavras que definem e caracterizam a seleção masculina de vôlei brasileira e o que ela representa para aqueles que a acompanham desde 1984, quando o Brasil conquis tou a primeira medalha olímpica (prata) na história, ainda quando Bernardinho, o atual e brilhante técnico da seleção, era o levantador reserva. 8 anos depois, em Barcelona, com Maurício, Giovane, Tande, Marcelo Negrão, Carlão e tantos outros, veio a medalha histórica que colocou o voleibol brasileiro de vez no rol internacional do esporte: o tão esperado e sonhado ouro olímpico.

        Bernardo Rocha de Rezende, Bernardinho, assumiu o comando da seleção em 2001, dando início à chamada ‘Era Bernardinho’. Sob o comando deste, o vôlei masculino alcançou o eneacampeonato da Liga Mundial, sendo apenas um conquistado antes dessa era (1993, 2001, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2009, 2010), o tricampeonato mundial, em 2002 – Argentina - (título inédito para o Brasil), 2006 – Japão - (no qual Giba foi eleito, merecidamente, o MVP (jogador mais valioso) e 2010 – Itália - (Murilo eleito também merecidamente o MVP), duas Copas do Mundo (2003 e 2007) e dois ouros nos Jogos Pan-Americanos (2007 e 2011) e um bronze (2003). 

Mas, o que consagrou a Era Bernardinho, em conjunto com todas as conquistas anteriores e com aquelas que viriam a existir, foi o ouro olímpico, em 2004 em Atenas. A vitória liderada pelo capitão Nalbert e por outros jogadores de suma importância, como Giba, Gustavo, Dante, Maurício, Ricardo, Giovane, André Nascimento e Serginho/escada (o melhor líbero do mundo e eleito na Liga Mundial de 2009 o MPV, título inédito conquista por um líbero). 

Após esse título maravilhoso, o Brasil seguiu crescendo no voleibol e conquistando mais espaço internacional. Na próxima Olimpíada, em Pequim, 2008, Brasil chegou a mais uma final, ganhando a prata ao perder para a seleção americana o 3x1. Quatro anos depois, em Londres, após muitas críticas negativas a seleção chegou sem favoritismo (para os jornalistas e ‘torcedores’ críticos de plantão) e, desculpem-me o palavreado, calou a boca dessas pessoas ao derrotar a Itália na semifinal, com incríveis 3x0 e tornou-se a única seleção de voleibol no mundo a disputar três final olímpicas seguidas. 

O ouro, contra a Rússia não veio. O técnico russo, Vladimir Alenko, alterou o esquema tático da seleção russa, apostando no tudo ou nada. E, infelizmente, a sua tática deu certo. Colocou o central Dmitri Muserskiy como oposto e o paredão brasileiro, que havia funcionado nos sets anteriores, não consegui pará-lo. O Brasil conquistou a prata, jogou com raça até o fim e honrou a camisa brasileira. Errado quem pensa que prata não é ‘nada’, prata significa o resultado de um trabalho árduo realizado por toda a comissão técnica e por esses jogadores ao longo de todos esses anos, que sempre que perdem são criticados e apedrejados, questionando ‘cadê aquele Brasil?’, como o ponteiro Giba afirmou em uma declaração triste e emocionante após o jogo. Aquele Brasil, eu respondo a vocês, continua aqui, jogando com raça e não desistindo até o último ponto do jogo. 

A seleção chegou à final com inúmeros contratempos, com Giba, Dante e Murilo, principais ponteiros, recuperados de recentes lesões, com Vissotto lesionado na quarta de final. Porém, tudo isso foi superado. O menino Wallace entrou com confiança no lugar de Vissotto, o incrível líbero Serginho defendendo todas as bolas possíveis, Bruninho fazendo história como levantador na seleção e o técnico Bernardinho mostrando que a seleção chegou a mais uma final olímpica, pela terceira vez consecutiva, mesmo com o ‘mundo’ contra eles. 

           Uma seleção digna de respeito e amor, que é respeitada no cenário internacional, mas que, no Brasil, é criticada por uma derrota após tantos anos de conquistas e de esforços de todos os jogadores e comissão técnica. Aqueles que se dizem torcedores e só acompanham o desempenho do voleibol na Olimpíada, que dizem ter vergonha e que xingaram arbitrariamente os jogadores e o Bernardo ontem, eu digo uma coisa a vocês: vergonha tenho eu de ver essas pessoas batalhadoras que trouxeram ao Brasil um voleibol de alto nível serem criticadas sem razão alguma por vocês. Se não fossem essas pessoas, o vôlei, que, para mim, é o esporte principal no Brasil, não seria nada. 

A maioria dos brasileiros têm a triste mania de achar que bronze e prata não valem nada. Apenas chega-se a uma final olímpica e disputa por terceiro lugar os melhores do mundo. E, novamente, Brasil disputou 3 vezes seguidas uma final olímpica. O ouro? Quem não queria? É difícil tentar entender como os jornalistas e todos esses críticos de plantão pensam que esses meninos entregaram o jogo. Pelo contrário, os russos venceram por mérito deles. Os meninos foram guerreiros até o fim e quem não viu o choro do Sidão e Bruninho, o lamento de Serginho, a tristeza de Murilo, o desabafo de Giba e de todos os outros jogadores, não assistiu ao mesmo jogo que eu. 

Esse título olímpico foi conquistado, foi suado, foi difícil. Garanto que se o Brasil tivesse sido campeão olímpico ontem, não teria uma pessoa criticando. Brasileiro tem memória curta e esquece tudo o que foi conquistado por mérito dessas brilhantes pessoas, como citado no início do texto. Dói muito ver o Giba saindo triste da seleção, deixando um legado sem igual, por causa dessas críticas e dói mais ainda saber que o Bernardo, um técnico excepcional e brilhante pessoa (eu já tive a oportunidade de conversar rapidamente com ele no Mineirinho em um treino em 2009 e vi várias declarações de jogadores dizendo como ele é um alicerce para eles, tanto dentre quanto fora de quadra) pode sair da seleção, porque essas pessoas usam o Bruninho para o atingir, este que já provou que está na seleção por mérito dele e não por ser filho do Bernardo.

 As críticas são difíceis de escutar, eu sei, mas saibam que da mesma forma que existem pessoas criticando sem saber a história de vocês e o que cada um teve que superar e a história do vôlei nesse país, há também aquelas pessoas que, como eu, conhece essa história e se orgulha e chora por tudo o que vocês representaram para o vôlei e tudo o que o vôlei representa para mim. E também que apoia, perdendo ou vencendo, nos bons e nos momentos nem tão bons assim, com ouro ou sem ouro, porque respeita tudo aquilo que foi construído desde 1984, em um país considerado do futebol; um esporte que me orgulha porque eu tenho absoluta certeza e completa confiança que vocês honram a camisa brasileira e dão o sangue para nos orgulhar. E tenham uma certeza: vocês sempre fazem o dever de casa de forma maravilhosa. Um muito obrigada por não desistirem mesmo com muitas críticas contra e por fazer o vôlei se sobressair nesse país. 
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