Central do Sada/Cruzeiro, pernambucano Douglas Cordeiro fala sobre trajetória no vôlei

 

As dificuldades encontradas por jogadores nordestinos são muitas: falta de patrocínio, pouco investimento no esporte, condições precárias para treinamento e tantas outras situações que desmotivam qualquer atleta. Muitos jovens, nesta situação desistem do sonho de se tornar jogador profissional, e vão em busca de alternativas, dentro ou fora do  mundo esportivo.
 
A história do Pernambucano Douglas Cordeiro, no entanto, é a prova de que com determinação é possível construir uma carreira de sucesso. Hoje o nordestino é exemplo para nova geração de jogadores da modalidade no Nordeste.
Nascido em Recife e filho de um noronhense nato, Douglas não  esqueceu de suas raízes, em 2012 na final masculina contra o Vôlei Futuro, o Pernambucano fez uma homenagem à ilha carregando a bandeira do local. Aos 34 anos, o central está prestes a encerrar sua quinta temporada seguida pela equipe mineira –sendo o  jogador mais velho do elenco. Confira a entrevista. 
 
Você começou sua trajetória no vôlei aos 14 anos em Fernando de Noronha. Nos conte um pouco sobre esse inicio de carreira e as  principais dificuldades enfrentadas.
Eu morava em Noronha quando o Brasil foi campeão olímpico em 92 e campeão da Liga mundial em 93. O Brasil respirava Voleibol e lá em Noronha não foi diferente. O professor de educação física na Escola que eu estudava em Noronha, o falecido Chico, sempre gostou muito de vôlei, e as nossas aulas eram sempre dessa modalidade. Segui os conselhos de Chico e quando fui morar em Recife, em 94, procurei o professor de educação física da escola que fui estudar o Gugu no Colégio Contato, para tentar realizar o sonho de ser jogador de vôlei. Foi o que eu fiz. Em 96 eu já estava sendo convocado para seleção brasileira infanto.

Confesso que sofri um pouco de discriminação pelo fato de ser Nordestino. Pegavam muito no meu pé por causa do meu sotaque, mas nunca deixei isso me abalar. Sempre tive muito apoio da minha família para superar essas barreiras e me firmar dentro do cenário nacional.  

Seu primeiro clube foi o Sport Recife, tendo como técnico o Gugu. Atualmente, qual sua relação com o vôlei pernambucano? Tem algum contato com a equipe?
O vôlei Pernambucano está definitivamente abandonado. Imagino o tanto de atletas de grande potencial que nesses últimos anos perderam oportunidades de se tornar jogadores profissionais de vôlei por falta de investimentos nessa área.

Sempre que vou a Recife procuro as pessoas que fizeram parte do início da minha carreira para matar saudade e colocar o papo em dia. O Gugu, o Murilo Amazonas são pessoas que tenho um carinho enorme e que nunca me esquecerei.

Quais suas principais referências no inicio de sua carreira?
Sempre gostei muito do estilo de jogar do Max, ex jogador de seleção brasileira. Era central e virou oposto. Saltava bastante e tinha um estilo de jogar que era único.


O Vôlei Nordeste tem o objetivo de chamar atenção, de mostrar que também amamos vôlei. Como você vê a relação dos dirigentes do vôlei nacional com o Nordeste? Acredita que estamos “esquecidos”?
Acredito sim. Nossa região cresceu em alguns aspectos desde que o PT assumiu a presidência da república. Mas no lado do esporte, principalmente o voleibol, não teve nenhuma mudança significativa. O basquete feminino do Sport é uma exceção, está entre as melhores equipes nacionais. Sabemos que são vários fatores que contribuem para o sucesso de um projeto esportivo. Os patrocinadores tem que ter uma ligação afetiva com a modalidade e a mídia tem que fazer sua parte. Isso a gente não vê aí no Nordeste, pelo menos com o vôlei.

“ A Unifor, em 2010, esteve a um passo da Superliga, quando foi vice-campeã da Liga Nacional – o primeiro nordestino a conseguir o feito [até aquele ano, a Liga Nacional era a divisão de acesso para a Superliga]. Mas teve que abdicar da vaga por não ter tido apoio, já que a Superliga precisa de um investimento muito mais elevado, de pelo menos R$ 1 milhão”. Em sua visão, em situações como  essa  a confederação poderia intervim, levando em conta  a falta de representantes nordestino na Superliga?
 
Isso tudo se resume a um pouco de descaso. Infelizmente o que chama mais atenção são equipes que investem milhões. Como isso não acontece no Nordeste, dificilmente teremos mudanças nesse sentido.

Começar a carreira no Nordeste é um desafio para os jovens que se aventuram na procura por espaço em times do Sudeste. Se sente como referencia para esses jovens talentos ?
Creio que sim. Me sinto muito honrado e realizado por ter conseguido chegar onde cheguei. E essa prazer aumenta mais ainda quando fico sabendo de jogadores que se espelham em mim para buscar seus objetivos, é muito gratificante.

Como foi receber o título de “Cidadão Noronhense”?
Foi uma honra imensurável. Esse título foi idealizado por pessoas que fizeram parte desse sonho que carreguei na bagagem quando saí de Noronha e fui morar em Recife. Só tenho que agradecer a essas pessoas especiais.

Com as facilidades de comunicação proporcionadas pelas redes sociais, os torcedores puderam se “aproximar” de seus ídolos. Sente o  carinho dos torcedores nordestinos nestas redes?
Sinto sim, já fiz amizades com alguns. É sempre bom compartilhar as emoções desse esporte maravilhoso que é o vôlei com eles.
 





 




O Sada/Cruzeiro tem sua equipe além de você, mais dois representantes nordestinos. Daniel da Paraíba e Mauricio de Alagoas. Qual sua relação com os dois conterrâneos?
São grandes amigos e me identifico muito com eles, pois tiveram que superar obstáculos parecidos com os que eu tive. Essa relação deve perdurar além do vôlei, são pessoas incríveis.

Em algumas entrevistas você declarou que não ver chances em jogar na Seleção Brasileira. Por que acredita nisto?
Tem muitos anos que deixei de sonhar com a seleção. Acho que o Bernardinho nunca gostou do meu estilo de jogo e creio que, no ponto de vista dele, central tem que ter mais de 2 metros, e não é o meu caso.

O que falta conquistar no voleibol e quais seus principais objetivos dentro e fora de quadra?
Posso dizer que estou bastante realizado com os títulos que ganhei. Agora já estou numa fase da carreira mais próxima do fim e começo a dar um pouco de atenção ao meu pos-volei. Ainda não sei o que vou fazer mas penso nisso todo dia.

Deixe um recado para os fãs de Vôlei do Nordeste.
Vou deixar aqui o desejo que tenho, antes de me aposentar, de defender um time do Nordeste, de preferência na minha cidade natal, em Recife. Seria um grande prazer para mim voltar a ter contato com familiares, amigos e as pessoas que sempre gostaram de vôlei aí no Nordeste. Um grande abraço a todos.

 























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