Uma breve análise da geografia do vôlei brasileiro

Um texto de: Mariana Miquelino 
Publicado originalmente: linhadas5.

A cada ano a popularidade do vôlei cresce dentro do território nacional, ainda que não se tenha uma política de divulgação condizente com a qualidade técnica do esporte vivenciada no panorama atual. O que pouco se debate é a distribuição geográfica das grandes potências do país e dos patrocinadores, que claramente demarca uma concentração dos investimentos na região Sudeste.             

Dos doze times que participaram da Superliga Masculina 2012/2013, apenas dois eram representantes de estados que não compõem a região Sudeste: Canoas (RS) e Super Imperatriz Vôlei (SC). A mesma situação foi vista na Superliga Feminina; dos dez times inscritos na competição, somente o Rio do Sul (SC) simbolizou um estado à parte do eixo São Paulo/Minas Gerais/Rio de Janeiro. Ainda assim, os “estados forasteiros” estão inseridos num contexto geopolítico positivo, estando em uma região com importantes atividades econômicas e com o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil.
        
Na mídia, são escassos os comentários acerca dos eixos secundários do esporte, dando-nos a impressão de que não são realizados campeonatos nessas localidades, o que não é verdade. Em uma rápida pesquisa pela internet sobre o tema, percebemos que a divulgação de tais torneios (muito modestos, de fato) é feita na maioria das vezes por blogs pessoais engajados na busca de uma mudança nesse cenário vergonhoso, a exemplo do Vôlei Nordeste
   Tais quais os movimentos migratórios em direção ao Sudeste decorrentes de uma procura por melhores condições de vida e maior oferta de empregos promovidos por trabalhadores de diversas áreas de atuação, os atletas acabam se transferindo para outras cidades visando o ingresso em times que ofereçam maior suporte. Alguns nomes de sucesso que enfrentaram essas dificuldades são os pernambucanos Jaqueline Carvalho (Sollys/Nestlé), Danielle Lins (Sesi-SP) e Douglas Cordeiro (Sada/Cruzeiro).
        
Em entrevista ao Vôlei Nordeste, Douglas comentou tal conjuntura: “O vôlei pernambucano está definitivamente abandonado. Imagino o tanto de atletas de grande potencial que nesses últimos anos perderam oportunidades de se tornar jogadores profissionais de vôlei por falta de investimentos nessa área”. E complementa: “Sabemos que são vários fatores que contribuem para o sucesso de um projeto esportivo. Os patrocinadores têm que ter uma ligação afetiva com a modalidade e a mídia tem que fazer sua parte. Isso a gente não vê aí no Nordeste, pelo menos com o vôlei. (...) Infelizmente o que chama mais atenção são equipes que investem milhões. Como isso não acontece no Nordeste, dificilmente teremos mudanças nesse sentido”.
        
A jogadora paulista Fofão (Unilever) também falou sobre o assunto ao ser entrevistada pelo portal de notícias baiano A Tarde: “Vou te falar, nunca ouvir falar da Bahia no esporte. Não só no vôlei como em outros esportes. As pessoas deviam incentivar um pouco mais, sabemos que do Nordeste saem muitas jogadoras. Todo lugar tem um talento escondido, na Bahia também tem. Caberia dar essa oportunidade, fomentar o esporte. Pena não ter um ginásio. Se tivesse, quem sabe não veríamos novas promessas?”.
        
A falta de ginásios com a estrutura necessária para receber jogos de grande porte é apenas mais um dos problemas enfrentados tanto por atletas quanto por torcedores. Partidas da Superliga ou da Liga Mundial não são realizadas nesse “eixo da exclusão” justamente pela falta de instalações adequadas. Dando minha opinião particular, imagino como é triste para os admiradores do esporte nessas regiões nunca ter a oportunidade de vivenciar a emoção de assistir aos seus ídolos brilhando dentro de quadra devido à ausência de uma política de inclusão de outros estados na crescente representatividade do vôlei nacional.
        
Solidário à presente situação, Marcelo Fronckowiak, técnico da equipe RJX, doou materiais para a Seleção Baiana Masculina de Vôlei, comandada por seu amigo Alex Rufino, ajudando a melhorar o nível da preparação para a disputa do Campeonato Brasileiro de Seleções. 

        
Iniciativas individuais como a citada acima são de fato admiráveis, mas a pergunta que não quer calar é: onde se enquadra a CBV diante disso tudo? A Confederação deveria ser a primeira a se manifestar a favor de uma maior inclusão, desenvolvendo projetos de melhoria e buscando investimentos, inclusive junto ao Governo Federal, para que o esporte possa se expandir de maneira concreta para outras regiões, mas aparentemente é mais cômodo apenas fechar os olhos para os problemas existentes. Segundo alguns, o Brasil é o país do vôlei; é uma pena que o vôlei não seja de todo o país. 

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